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Como os robôs estão mudando a indústria dos morangos (e as fazendas indoor)

As aquisições de startups de robótica agrícola por empresas de agricultura indoor movimentam o ecossistema de agtechs e estão suprindo uma lacuna causada pela falta de mão-de-obra.

A colheita deve ser feita nas horas mais frescas do dia. As bagas são pequenas e frágeis. Mas, é preciso força para separá-las do caule. Suave, porém, vigoroso, o movimento deve seguir em uma direção específica.

Cuidado! O toque requer suavidade para não lhes machucar a pele. Se apertar um pouquinho mais forte, esmaga. Atenção! Fora do pé, os frutos têm de ser resfriados em até duas horas, para evitar a maturação e, consequentemente, a deterioração.

Perigo! As bagas sadias não podem ser misturadas com as podres, sob risco de contaminação. E nunca, jamais, em hipótese alguma, é permitido despejá-las diretamente das cestas de colheitas sobre as mesas de classificação. Elas amassam com muita facilidade.

Poucas frutas são tão delicadas quanto os morangos. Demandam uma manipulação extremamente precisa e apurada, ao longo de toda a cadeia alimentar – da lavoura ao prato do consumidor. Não à toa sua colheita exige mão de obra treinada.

Com a crise atual de empregos, porém, os trabalhadores qualificados são cada vez mais raros. No segundo maior produtor de morangos do mundo, os Estados Unidos, 20% da 1,4 milhão de tonelada produzida anualmente apodrecem no campo, por falta de quem as tire do pé. Um prejuízo de US$ 300 milhões, por ano.

Se lavouras como as de soja, milho e trigo estão completamente automatizadas, por que não criar um robô colhedor de morangos? Até pouco tempo atrás, não havia tecnologia capaz de substituir o olhar afiado e a precisão das mãos humanas, na lida de um produto tão vulnerável aos trancos da cadeia agroalimentar.

Na última década, entretanto, com o aperfeiçoamento das ferramentas de robótica, inteligência artificial, visão computacional e redes neurais, vários empreendedores se lançaram no desafio de construir máquinas inteligentes o bastante para dar conta da complexidade do manejo de morangos.

Na última década, entretanto, com o aperfeiçoamento das ferramentas de robótica, inteligência artificial, visão computacional e redes neurais, vários empreendedores se lançaram no desafio de construir máquinas inteligentes o bastante para dar conta da complexidade do manejo de morangos.

De um lado, a robótica agrícola, apostando no combate ao desperdício; e, do outro, a agricultura de ambiente controlado, prometendo resolver a escassez de terra arável e água.

A AppHarverst, startup de agricultura indoor, com sede no Kentucky, comprou por US$ 60 milhões a Root AI, fabricante do Virgo. Além de morangos, o Virgo está programado para colher cerca de 50 variedades agrícolas, entre as quais pimentões e pepinos, mas seu forte são os tomates. Nos planos de expansão da AppHarverst está a diversificação de culturas.

Aliás, foi isso que motivou a compra, por valores não revelados, da Traptic pela poderosa Bowery, uma das maiores startups de agricultura de ambiente controlado do mundo. Fundada em 2015, com sede em Nova York e com fazendas verticais em Nova Jersey, Maryland e Pensilvânia, a empresa fornece seus produtos para cerca de 800 varejistas, alguns de peso como a Amazon Fresh, Giant Food, Walmart e Whole Foods.

Em maio de 2021, a Bowery foi avaliada em US$ 2,3 bilhões, depois de receber um aporte de US$ 300 milhões, até então a maior rodada de investimentos para uma startup de fazendas verticais.

Agora, a startup de Nova York quer ir além da produção de folhosas e incluir em seu portfólio tomates, morangos e outras “culturas delicadas”. É aí que a Traptic entra. Fundada em 2016, na California, a empresa desenvolveu o robô Ceres, tão preciso quanto suave para a colheita de variedades extremamente frágeis.

“A pinça Traptic agarra os morangos com firmeza suficiente para extraí-los do pé, mas delicadamente o suficiente para preservar sua qualidade”, lê-se no comunicado da startup. A plataforma da empresa foi construída em torno desse braço.

Graças a um sistema de visão computacional, o robô consegue distinguir os frutos maduros dos verdes, com base em apenas uma mancha branca minúscula na superfície dos morangos. A máquina também determina com precisão milimétrica a posição das bagas, além de ajudar na polinização, poda e desbaste das plantas.

No ano passado, a Traptic movimentou US$ 8,4 milhões com a implantação do Ceres, em fazendas da Califórnia. Segundo a startup, a tecnologia reduz em 20% o desperdício e aumenta a produtividade de produtos de alta qualidade, sem manchas.

Tanto a robótica agrícola quanto a agricultura de ambiente controlado passam por um momento crucial. Para enfrentar os desafios impostos pela crise climática, a palavra de ordem é diversificação.

Até agora, na imensa maioria dos casos, a agricultura indoor esteve focada no plantio de folhosas e ervas. Alguns analistas apostavam que o setor, depois da euforia dos primeiros anos, caminhava rumo ao “vale da desilusão”, pela dificuldade de produção em larga escala e a pequena variedade de produtos ofertados.

Os morangos acenam com a possibilidade de um futuro mais diverso. Recentemente várias startups de agricultura indoor anunciaram planos de começar a cultivar a fruta. É o caso da alemã Infarm, da singapurense Singrow e das americanas Plenty e Amplified.

Em 2020, o mercado global atingiu US$ 1,8 bilhão e a expectativa é de que, nos próximos cinco anos, chegue a US$ 23,2 bilhões, a uma taxa de crescimento anual em torno de 3,4%.

Para os empreendedores do morango, ir para o ambiente asséptico e controladíssimo das fazendas indoor, que dispensam o uso de defensivos agrícolas, pode ser a redenção da fruta. A baga é presença constante no rol The Dirty Dozen.

Divulgado anualmente, desde 2004, pelo Environmental Working Group, o ranking elenca as frutas e legumes com as maiores concentrações de pesticidas. E o frágil morango está sempre lá, no topo da lista.

Fonte: https://neofeed.com.br/blog/home/como-os-robos-estao-mudando-a-industria-dos-morangos-e-as-fazendas-indoor/